Vários anos atrás, o rover Curiosity da NASA detectou vestígios de metano na atmosfera marciana em níveis significativamente mais altos do que o fundo usual. No entanto, alguns meses depois, o metano desapareceu, apenas para reaparecer no final daquele ano. Essa observação levantou a intrigante possibilidade de vida ainda persistente em Marte, já que tais flutuações no metano poderiam sugerir atividade biológica.
Embora Marte tenha sido um dia lar de oceanos de água líquida e uma atmosfera densa, agora é uma terra desolada. Então, que tipo de vida poderia sobreviver lá? A maioria dos organismos terrestres não sobreviveria por muito tempo nas condições marcianas, mas existe um grupo de formas de vida terrestre que poderiam achar Marte mais hospitaleiro.
São os metanogênicos — organismos unicelulares que consomem hidrogênio para obter energia e produzem metano como subproduto. Os metanogênicos prosperam em ambientes extremos na Terra, e um organismo similar poderia ser responsável pelas flutuações sazonais nos níveis de metano em Marte.
Em um artigo recente submetido à Astrobiology, uma equipe de cientistas examinou os ambientes terrestres para encontrar análogos potenciais às condições marcianas, com foco especial nos metanogênicos que prosperam em ambientes semelhantes aos que poderiam existir em Marte.
Os pesquisadores identificaram três ambientes terrestres onde os metanogênicos florescem sob condições extremas. O primeiro é no interior da crosta terrestre, onde pequenas fissuras nas rochas permitem que a água líquida se infiltre, às vezes a profundidades de vários quilômetros.
O segundo é lagos enterrados sob a camada de gelo da Antártida, onde a imensa pressão do gelo mantém a água em estado líquido. O terceiro é em bacias super-salinas e privadas de oxigênio encontradas nas profundezas oceânicas.
Todos esses três ambientes têm análogos em Marte. Assim como a Terra, Marte pode ter água líquida presa profundamente em sua crosta. Suas calotas polares também podem esconder lagos de água líquida sob o gelo. Além disso, há evidências controversas, mas intrigantes, de água salobra fluindo nas paredes de crateras marcianas.
No estudo, os pesquisadores mapearam as faixas de temperatura, níveis de salinidade e valores de pH desses locais na Terra, medindo a abundância de hidrogênio molecular e identificando onde os metanogênicos eram mais abundantes. Em seguida, aplicaram essas descobertas aos dados coletados de Marte, identificando áreas que poderiam ter as condições adequadas para a vida. Eles concluíram que a Acidalia Planitia, uma vasta planície no hemisfério norte de Marte, é o local mais promissor.
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Especificamente, vários quilômetros abaixo dessa planície, as temperaturas são suficientemente altas para manter a água líquida. Essa água poderia possuir a combinação ideal de pH, salinidade e hidrogênio dissolvido para sustentar organismos semelhantes aos metanogênicos.
O próximo desafio é descobrir como alcançar esse possível ponto quente para a vida.