Poeira lunar é menos tóxica do que a poluição das cidades

A volta da humanidade à Lua traz desafios que vão além dos sistemas de propulsão ou da resistência dos trajes espaciais. Um dos vilões silenciosos das missões lunares é a poeira que cobre toda a superfície do satélite. Extremamente fina e abrasiva, ela já foi apontada como potencial risco à saúde dos astronautas. Mas afinal, quão perigosa ela realmente é?
Uma pesquisa publicada na revista Life Sciences in Space Research traz uma resposta mais clara — e inesperada. Segundo o estudo, a poeira lunar tem impacto tóxico consideravelmente menor nos pulmões do que a poeira terrestre, especialmente se comparada às partículas de poluição presentes nas grandes cidades.
Durante as missões Apollo, astronautas relataram irritações nos olhos, garganta e nariz após a exposição à poeira lunar que se infiltrava na cabine. Harrison Schmitt, da Apollo 17, descreveu o problema como uma espécie de “rinite lunar”. O desconforto, embora temporário, levantou preocupações sobre os riscos em missões prolongadas.
Para investigar, os cientistas utilizaram dois tipos de simulantes de poeira lunar — LMS-1, representando regiões de mares lunares, e LHS-1, das terras altas — comparando seus efeitos com os de partículas de poluição do ar da Terra, especificamente as chamadas PM2.5, comuns em centros urbanos.

As análises mostraram que, embora a poeira lunar cause irritação física e, em altas concentrações, reduza a viabilidade de algumas células pulmonares, ela não desencadeia processos inflamatórios tão intensos quanto a poeira terrestre. “A poeira da Terra gera maior liberação de citocinas inflamatórias, como IL-6 e IL-8, o que não foi observado nos testes com as amostras lunares”, destacam os autores.
Um dos fatores críticos para a toxicidade é o tamanho das partículas. Na Terra, partículas menores que 2,5 micrômetros são especialmente perigosas, pois conseguem penetrar profundamente nos pulmões, atingindo os alvéolos. O mesmo princípio se aplica à poeira lunar.
Quando processadas para esse tamanho respirável, as amostras lunares mostraram maior capacidade de reduzir a viabilidade celular, mas ainda assim, os efeitos foram mais brandos que os observados com as partículas de poluição terrestre. Além disso, os testes não indicaram aumento de estresse oxidativo nas células expostas à poeira lunar — algo que costuma estar relacionado ao desenvolvimento de doenças respiratórias.
Apesar de menos tóxica que a poeira terrestre, a poeira lunar não é inofensiva. Seu formato irregular, com arestas cortantes e textura altamente abrasiva, pode causar danos físicos às células durante a inalação. E, em ambientes de baixa gravidade como a Lua, a poeira tende a permanecer suspensa por mais tempo, aumentando a chance de ser respirada.
Outro ponto levantado pelos pesquisadores é que as partículas maiores, que na Terra rapidamente se depositariam no chão, podem continuar flutuando no ambiente lunar, aumentando a exposição dos astronautas, principalmente dentro dos módulos e habitats.
📚 Referência: SMITH, M. B.; CHOU, J.; XENAKI, D.; BAI, X.; CHEN, H.; OLIVER, B. G. G. Lunar dust induces minimal pulmonary toxicity compared to Earth dust. Life Sciences in Space Research, v. 45, p. 72–80, 2025. DOI: 10.1016/j.lssr.2025.02.005.