Como o Seu Cérebro Decide Continuar ou Desistir

Quando nos sentimos mentalmente exaustos, nosso cérebro pode estar realizando cálculos silenciosos que vão além da simples sensação de cansaço. Um novo estudo com ressonância magnética funcional (fMRI) revelou que duas regiões específicas do cérebro se ativam quando enfrentamos fadiga cognitiva — sugerindo que ele pondera se vale a pena continuar um esforço mental ou desistir.
Realizado por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e do Kennedy Krieger Institute, o experimento envolveu 28 voluntários saudáveis, entre 21 e 29 anos, submetidos a testes de memória de trabalho enquanto eram monitorados por fMRI. O objetivo era induzir deliberadamente a fadiga cognitiva e observar como o cérebro responde a esse estado.
“Nosso laboratório estuda como [nossas mentes] atribuem valor ao esforço”, explica Vikram Chib, Ph.D., professor associado de engenharia biomédica na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. “Entendemos menos sobre a biologia das tarefas cognitivas, como memória e recordação, do que das tarefas físicas, embora ambas exijam muito esforço.”
Durante os testes, os participantes viam letras aparecendo em sequência numa tela. Em seguida, tinham que se lembrar da posição de letras específicas dentro dessa sequência. Quanto mais distante no tempo a letra surgia, maior era o desafio — e, portanto, maior o esforço mental envolvido.
Para estimular a motivação, os voluntários recebiam prêmios em dinheiro com valores crescentes, entre US$ 1 e US$ 8, de acordo com o nível de dificuldade enfrentado. Antes e depois de cada rodada, avaliavam seu próprio grau de fadiga.
Os resultados foram claros: quanto maior a sensação de cansaço relatada, maior a atividade e conectividade entre duas áreas do cérebro — a ínsula direita, conhecida por processar estados internos como dor e exaustão, e o córtex pré-frontal dorsolateral, envolvido na memória de trabalho e no controle executivo. Em todos os participantes, a atividade nessas regiões mais que dobrou em comparação à linha de base.
“Nosso estudo foi projetado para induzir fadiga cognitiva e observar como as decisões de continuar se esforçando mudam diante da fadiga, além de identificar as áreas do cérebro onde essas decisões são tomadas”, diz Chib.
Um ponto-chave foi a relação entre motivação e persistência mental. Os pesquisadores notaram que os voluntários só se esforçavam nos níveis mais difíceis da tarefa quando os prêmios em dinheiro eram substancialmente maiores. Segundo Chib, isso indica que estímulos externos podem compensar a sensação de cansaço mental.
“Esse resultado não foi totalmente surpreendente, considerando que já havíamos observado a mesma necessidade de incentivos para motivar esforço físico”, afirma. Ele ressalta que “essas duas áreas do cérebro parecem trabalhar juntas para evitar mais esforço cognitivo, a menos que haja uma boa recompensa”.
A descoberta tem implicações diretas para condições como depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), nas quais a fadiga cognitiva é um sintoma comum. “Agora que provavelmente identificamos alguns dos circuitos neurais do esforço cognitivo em pessoas saudáveis, o próximo passo é entender como essa fadiga se manifesta em cérebros de pessoas com esses distúrbios”, destaca Chib.
A ideia é que, ao mapear os mecanismos cerebrais envolvidos na fadiga mental, seja possível desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes. Isso inclui tanto medicamentos quanto estratégias de terapia cognitivo-comportamental.
Ainda assim, os pesquisadores reconhecem as limitações do estudo. A fMRI, embora útil para captar o fluxo sanguíneo em áreas amplas do cérebro, não mede diretamente a atividade neuronal. Além disso, os testes foram conduzidos em ambiente controlado, com tarefas específicas — algo distante das situações reais em que o cansaço mental costuma aparecer.
“Este estudo foi feito com tarefas cognitivas muito específicas dentro de um scanner de ressonância magnética. Será importante verificar se esses resultados se aplicam a outras formas de esforço mental e a situações da vida real”, observa Chib.
O estudo completo está disponível no Journal of Neuroscience e foi financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH).