Descoberto túmulo do primeiro rei de Caracol, antiga cidade maia

Arqueólogos da Universidade de Houston anunciaram a descoberta do túmulo de Te K’ab Chaak, o primeiro governante da cidade maia de Caracol, em Belize. A identificação da sepultura representa um marco importante: é o primeiro túmulo real reconhecido em mais de 40 anos de escavações no maior sítio arqueológico maia do país.
Te K’ab Chaak foi enterrado por volta de 331 d.C., na base de um santuário da família real. Junto a ele estavam vasos cerâmicos, tubos de osso entalhados, joias de jadeíta, conchas do Pacífico e uma impressionante máscara de jadeíta em mosaico. A análise do esqueleto indica que o rei tinha cerca de 1,70 m de altura, idade avançada no momento da morte e nenhum dente restante.
Os vasos encontrados na câmara funerária chamaram atenção pela riqueza simbólica. Um deles mostra um governante segurando uma lança e recebendo oferendas de divindades. Outro traz a imagem de Ek Chuah, deus maia do comércio, cercado por oferendas. Quatro vasos retratam cativos amarrados, e dois apresentavam tampas com cabeças modeladas de Quati, animais que mais tarde apareceram nos nomes de outros reis de Caracol.

O túmulo de Te K’ab Chaak é parte de um conjunto de três sepultamentos datados de aproximadamente 350 d.C., todos localizados no Acrópole Nordeste da cidade. Um segundo enterro, descoberto em 2010, foi uma cremação incomum posicionada no centro de uma praça residencial — uma prática atípica entre os maias, mas comum em Teotihuacan, no centro do México.
Essa cremação continha os restos de três indivíduos e diversos artefatos de origem teotihuacana, como facas, pontas de dardo e lâminas de obsidiana verde de Pachuca. Um dos objetos mais notáveis foi a ponta entalhada de um atlatl, arma característica dos guerreiros de Teotihuacan. A hipótese dos pesquisadores é que o principal indivíduo cremado era membro da realeza de Caracol que adotou práticas rituais centromexicanas — possivelmente um emissário maia que viveu em Teotihuacan antes de retornar à cidade.

Um terceiro sepultamento, descoberto em 2009, também datado do mesmo período, pertencia a uma mulher. Ela foi enterrada com quatro vasos cerâmicos, um colar de contas de spondylus, fragmentos de espelho e duas conchas do Pacífico.
Para os arqueólogos, os três enterros lançam nova luz sobre os laços entre os maias e Teotihuacan, décadas antes do evento conhecido como entrada, registrado em 378 d.C.
“Uma questão que intriga os arqueólogos maias desde a década de 1960 é se uma nova ordem política foi introduzida na região maia por mexicanos vindos de Teotihuacan”, afirmou Diane Z. Chase, arqueóloga e vice-presidente sênior de assuntos acadêmicos da Universidade de Houston. “Monumentos de pedra, datas hieroglíficas, iconografia e dados arqueológicos sugerem que conexões pan-mesoamericanas ocorreram após o evento de 378 d.C. chamado entrada. Se esse evento representou de fato a presença de teotihuacanos na região ou o uso de símbolos centromexicanos pelos próprios maias ainda está em debate. Os dados de Caracol sugerem que a situação era muito mais complexa.”
Arlen F. Chase, professor e diretor do Departamento de Estudos Culturais Comparados da mesma universidade, ressalta o papel diplomático desses contatos:
“Tanto o centro do México quanto a região maia claramente conheciam os rituais uns dos outros, como refletido na cremação de Caracol. As conexões entre as duas regiões eram realizadas pelos mais altos níveis da sociedade, sugerindo que os primeiros reis de diversas cidades maias — como Te K’ab Chaak, em Caracol — estavam engajados em relações diplomáticas formais com Teotihuacan.”
A dinastia fundada por Te K’ab Chaak permaneceu ativa por mais de 460 anos, consolidando Caracol como um centro político importante nas terras baixas maias.
Atualmente, os arqueólogos continuam a análise do conteúdo da câmara funerária, incluindo a reconstrução da máscara mortuária e estudos de DNA antigo e isótopos estáveis. Os resultados da temporada de escavações de 2025 serão apresentados em agosto, durante uma conferência sobre a interação maia–teotihuacana no Instituto Santa Fe, no Novo México.