Raro relógio de sol antigo revela mistérios marítimos gregos na Turquia

O extraordinário artefacto, descoberto no Bouleuterion (salão do conselho) da cidade, representa um dos dois únicos exemplares conhecidos do seu género, sendo que o seu equivalente foi encontrado na ilha grega de Delos. Esta rara descoberta ilustra o sofisticado conhecimento científico e o talento artístico que caracterizaram a civilização grega antiga durante o período helenístico.
Localizada no distrito de Yunusemre, na província de Manisa, Aigai foi fundada pelos gregos eólios no século VIII a.C. e prosperou por quase 2.700 anos, explica o Greek Reporter. A cidade, um dos doze assentamentos eólios na Anatólia ocidental, surgiu nas encostas desafiadoras da região de Yuntdağ, onde a geografia adversa exigia tanto engenhosidade quanto proteção divina de seus habitantes.

Obra-prima do artesanato antigo
A excepcional preservação do relógio de sol como uma única peça de pedra reflete tanto a habilidade dos artesãos antigos quanto as circunstâncias arqueológicas favoráveis. O professor Yusuf Sezgin, chefe das escavações em Aigai e presidente do Departamento de Arqueologia da Universidade Manisa Celal Bayar, descreveu o artefato como «bastante especial» tanto em suas qualidades estéticas quanto funcionais, escreve Haberler.
Posicionado no topo de um capitel de coluna em estilo dórico e elevado do solo, a característica mais marcante do relógio de sol é o seu design em forma de proa de navio. A secção frontal imita cuidadosamente a proa de uma embarcação, completa com motivos de olhos protetores em ambos os lados – símbolos antigos que se acredita afastar o mau-olhado e garantir uma viagem segura. Hastes de bronze outrora projetavam-se da face do mostrador, projetando sombras que marcavam com precisão as horas do dia com base no ângulo do sol.

Inovação científica e simbolismo marítimo
Além da simples medição do tempo, o relógio de sol servia como um sofisticado instrumento astronómico capaz de acompanhar as mudanças sazonais. A sua linha central permitia aos observadores monitorizar eventos astronómicos cruciais, incluindo os solstícios de verão e inverno, demonstrando as avançadas competências matemáticas e observacionais dos cientistas da Grécia Antiga. Esta funcionalidade teria sido essencial para o planeamento agrícola e cerimónias religiosas ligadas aos ciclos sazonais.
As imagens marítimas esculpidas no relógio de sol revelam insights fascinantes sobre a identidade cultural e as conexões de Aigai. Apesar de estar localizada em um terreno montanhoso desafiador, onde a agricultura era difícil, os residentes da cidade mantinham fortes laços simbólicos com a cultura marítima. O professor Sezgin observou que “a representação de um navio esclarece as conexões de Aigai com o mar e sua admiração pela cultura marítima”, sugerindo que as influências costeiras penetraram profundamente no interior da Anatólia.
Legado das conquistas científicas gregas
O relógio de sol é extremamente raro — existe apenas um exemplar comparável na ilha de Delos, tornando esta descoberta inestimável para a compreensão da tecnologia e do artesanato da Grécia Antiga. O professor Sezgin enfatizou que «não encontramos outro exemplar tão intricadamente trabalhado», destacando a habilidade excepcional necessária para criar um instrumento científico tão preciso.
Agora em exposição no recém-inaugurado Museu de Manisa, o relógio de sol junta-se a outras descobertas significativas de duas décadas de escavações em Aigai. O local revelou teatros, mercados, salas de conselho e templos dedicados a Atena, Apolo e Deméter, ilustrando o equilíbrio entre a governação cívica e a devoção religiosa que caracterizava a vida urbana da Grécia Antiga.
Este artefacto notável é um testemunho da sofisticação científica alcançada pela civilização grega antiga, demonstrando como as comunidades combinavam as necessidades práticas de medição do tempo com a expressão artística e o simbolismo cultural. A sobrevivência do relógio de sol oferece aos investigadores modernos e aos visitantes uma ligação tangível às conquistas intelectuais que ajudaram a estabelecer as bases da tradição científica ocidental.