Cientistas revelam os hábitos do dia a dia que podem protegê-lo da demência

Estima-se que atualmente dezenas de milhões de pessoas com mais de 65 anos em todo o mundo vivam com a doença de Alzheimer, número que deve crescer significativamente nas próximas décadas. Esse aumento reflete mais do que mudanças demográficas; aponta para uma crescente crise global de saúde pública que exige uma abordagem proativa. Embora a idade cronológica seja o fator de risco mais conhecido para o declínio cognitivo, perder funções cognitivas não é um aspecto inevitável do envelhecimento.
À medida que a DA e outras formas de declínio cognitivo continuam aumentando em ritmo alarmante, pesquisadores da Charles E. Schmidt College of Medicine da Florida Atlantic University destacam um caminho poderoso e ainda pouco explorado para a prevenção.
Em um comentário publicado no The American Journal of Medicine, os pesquisadores incentivam clínicos, profissionais de saúde pública e formuladores de políticas a implementarem esforços coordenados para apoiar intervenções baseadas no estilo de vida, capazes de reduzir o crescente impacto do declínio cognitivo nos Estados Unidos e no mundo.
“Enquanto as mortes por doenças cardiovasculares diminuíram desde 2000, as mortes por Alzheimer aumentaram mais de 140%”, disse Charles H. Hennekens, M.D., FACPM, FACC, coautor, First Sir Richard Doll Professor of Medicine and Preventive Medicine e conselheiro acadêmico sênior da Schmidt College of Medicine. “Ao mesmo tempo, estima-se que até 45% do risco de demência possa ser atribuído a fatores modificáveis relacionados ao estilo de vida e ao ambiente.”
Fatores de risco relacionados ao estilo de vida — como sedentarismo, má alimentação, obesidade, consumo de álcool e condições como hipertensão, diabetes, depressão e isolamento social ou intelectual — são apontados como contribuintes para o declínio cognitivo. Os autores destacam que as mesmas mudanças terapêuticas de estilo de vida, comprovadamente eficazes na redução dos riscos de doenças cardiovasculares e outras doenças graves, podem também ajudar a reduzir o declínio cognitivo, possivelmente com efeitos adicionais quando múltiplos fatores de risco estão presentes.
O comentário ressalta os resultados recentemente publicados do estudo POINTER, o primeiro grande ensaio randomizado realizado nos EUA para testar se mudanças intensivas no estilo de vida podem melhorar os resultados cognitivos em adultos mais velhos com alto risco de declínio. Nesse estudo, participantes designados aleatoriamente para uma intervenção estruturada em equipe mostraram melhorias estatisticamente significativas e clinicamente relevantes na cognição global ao longo de dois anos. Esses ganhos foram especialmente notáveis em funções executivas, como memória, atenção, planejamento e tomada de decisões. A intervenção enfatizou atividade física regular, uma combinação de dietas no estilo Mediterrâneo e DASH, estimulação cognitiva e engajamento social — reforçados por orientação profissional contínua e suporte em grupo.
Esses achados são semelhantes a um ensaio finlandês anterior, o FINGER, no qual participantes com pontuações elevadas de risco cardiovascular designados aleatoriamente para uma abordagem multidimensional de estilo de vida apresentaram benefícios cognitivos.
“Os dados desses dois ensaios randomizados de grande escala demonstram que mudanças no estilo de vida — previamente comprovadas na redução de doenças cardíacas e câncer — também têm potencial transformador para a saúde cerebral”, afirmou Hennekens.
Os pesquisadores também levantaram hipóteses sobre os mecanismos biológicos que podem sustentar esses benefícios. A atividade física, por exemplo, aumenta o fator neurotrófico derivado do cérebro, que apoia o crescimento do hipocampo, além de melhorar o fluxo sanguíneo e reduzir a inflamação. Padrões alimentares saudáveis, como as dietas Mediterrânea e DASH, podem reduzir o estresse oxidativo, melhorar a sensibilidade à insulina e diminuir os riscos de doenças cardiovasculares. Parar de fumar pode ajudar a preservar a estrutura cerebral e a integridade da substância branca, e o engajamento social e cognitivo regular promove a neuroplasticidade e a resiliência mental.
“As implicações para a prática clínica, saúde pública e políticas governamentais são potencialmente enormes”, disse Parvathi Perumareddi, D.O., coautora e professora associada de medicina familiar na Schmidt College of Medicine. “Os clínicos agora dispõem de ferramentas poderosas e baseadas em evidências para ajudar seus pacientes a prevenir ou retardar o declínio cognitivo — ferramentas que vão além dos medicamentos, são geralmente de baixo risco e custo-efetivas. Agências de saúde pública poderiam adotar o modelo de ensaios como POINTER e FINGER para desenvolver programas de saúde cerebral.”
No âmbito das políticas, os pesquisadores observam que os potenciais ganhos econômicos são significativos, especialmente quando se considera o alto custo e a eficácia limitada de muitos novos agentes farmacológicos, que podem causar efeitos colaterais comuns e menos graves, como náusea, dor de cabeça e fadiga, além de riscos raros, porém mais sérios, como confusão ou sangramento gastrointestinal. Estudos de modelagem sugerem que reduzir fatores de risco chave em apenas 10% a 20% a cada década poderia diminuir o impacto do declínio cognitivo em até 15%.
Além do sistema de saúde, os custos sociais da demência são impressionantes. Em 2024, quase 12 milhões de familiares e cuidadores não remunerados forneceram cerca de 19,2 bilhões de horas de cuidado a indivíduos com demência — resultando em um custo social superior a 413 bilhões de dólares. O cuidado também tem impacto emocional, frequentemente levando a desafios de saúde mental e esgotamento dos cuidadores. Os pesquisadores enfatizam que essas realidades reforçam a necessidade de soluções práticas e comunitárias que apoiem tanto os pacientes quanto os cuidadores, reduzindo o ônus a longo prazo sobre famílias e economia.
“Embora mais pesquisas sejam necessárias, a evidência atual aponta um caminho claro: investir em estratégias baseadas no estilo de vida para proteger a saúde cerebral”, disse Hennekens. “Fazer isso não apenas beneficiará indivíduos em risco, mas também servirá como uma ferramenta poderosa para reduzir os encargos de saúde nacionais e globais relacionados ao declínio cognitivo.”
Mais informações: John Dunn, Parvathi Perumareddi, Charles H. Hennekens. Perspectivas para Clínicos Reduzirem o Declínio Cognitivo em Pacientes Idosos. The American Journal of Medicine, 2025; DOI: 10.1016/j.amjmed.2025.08.042