Tumba de Amenófis III reabre após meticulosa restauração

O Egito reabriu oficialmente uma das tumbas reais mais importantes do Vale dos Reis, após a conclusão de um notável projeto de restauração que durou 20 anos. A tumba do faraó Amenófis III, que governou o Egito Antigo durante sua era de ouro, entre 1390 e 1350 a.C., voltou a receber visitantes em 4 de outubro de 2025. A reabertura marca um marco significativo para a cooperação arqueológica internacional e a preservação do patrimônio histórico mundial.
A tumba de Amenófis III é uma das maiores do Vale dos Reis, com um corredor em declive de 36 metros de comprimento e 14 metros de profundidade que conduz a três câmaras interligadas. A principal abrigava o próprio faraó, enquanto as outras duas foram destinadas a suas esposas, as rainhas Tíe e Sitamun.
O interior impressiona pela riqueza artística: pinturas retratam o faraó ao lado de divindades egípcias e cenas do Livro dos Mortos. O teto exibe estrelas amarelas sobre um fundo azul profundo, simbolizando o céu, enquanto as paredes da câmara funerária trazem inscrições do Amduat, antigo texto destinado a guiar o falecido no além.
Durante a restauração, a equipe conseguiu remontar mais de 200 fragmentos da tampa do sarcófago de granito vermelho do faraó, danificada ao longo dos séculos por saques. A peça, agora reconstituída, foi colocada sobre uma base metálica especialmente projetada, permitindo que os visitantes contemplem o artefato em seu contexto original.

Conhecido como “Amenófis, o Grande”, o faraó subiu ao trono ainda adolescente e governou por 38 anos, durante o auge do Império Novo. Seu reinado foi marcado por prosperidade sem precedentes, avanços artísticos notáveis e grande influência diplomática em todo o Antigo Oriente Próximo. Entre suas realizações, destacam-se obras monumentais como ampliações no Templo de Karnak e a construção dos famosos Colossos de Mêmnon.
A tumba de Amenófis III foi descoberta em 1799 pelos engenheiros franceses Prosper Jollois e Édouard de Villiers du Terrage, durante a campanha napoleônica no Egito, embora já fosse conhecida por viajantes anteriores. Em 1915, o arqueólogo britânico Howard Carter — que mais tarde se tornaria célebre pela descoberta da tumba de Tutancâmon — realizou a primeira escavação completa, revelando toda a extensão do local, mesmo já severamente saqueado ao longo dos séculos.
A restauração recente modernizou a infraestrutura da tumba, com novos sistemas de iluminação, melhorias de segurança na íngreme escadaria de acesso e painéis informativos que auxiliam os visitantes a compreender tanto a importância histórica do monumento quanto o processo de preservação realizado nas últimas duas décadas.
Restauração é fruto de colaboração internacional
O projeto de restauração da tumba de Amenófis III foi realizado por meio de uma parceria extraordinária entre o Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, as universidades japonesas Waseda e Higashi Nippon, e o Fundo Fiduciário Japonês da UNESCO. O ministro do Turismo e Antiguidades, Sherif Fathy, inaugurou oficialmente a tumba acompanhado pelo secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, Dr. Mohamed Ismail Khaled, e pela diretora do Escritório Regional da UNESCO no Cairo, Dra. Nuria Sanz.
O trabalho foi conduzido em três fases distintas: a primeira entre 2001 e 2004, a segunda de 2010 a 2012, e a fase final entre 2023 e 2024. Esse planejamento meticuloso permitiu que especialistas internacionais enfrentassem os complexos desafios que afetavam a tumba desde sua descoberta, incluindo acúmulo de sais, danos estruturais e deterioração das pinturas murais.
Reabertura da tumba reforça turismo e cooperação internacional
A reabertura da tumba de Amenófis III ocorre em meio aos esforços do Egito para revitalizar seu setor turístico, uma fonte crucial de divisas. O evento acontece poucas semanas antes da inauguração prevista do Grande Museu Egípcio, próximo às Pirâmides de Gizé, marcada para 1º de novembro de 2025.

Durante a cerimônia, o restaurador egípcio Mohamed Mahmoud, que dedicou mais de vinte anos de sua carreira ao projeto, foi homenageado de forma especial. Apesar de já ter atingido a idade de aposentadoria, Mahmoud insistiu em participar para testemunhar a concretização de seu trabalho, representando a dedicação de inúmeros especialistas egípcios e internacionais que tornaram o projeto possível.
O projeto é um exemplo de sucesso em cooperação internacional para preservação do patrimônio cultural, mostrando como esforços colaborativos podem proteger tesouros antigos para as gerações futuras. A tumba restaurada agora conta com medidas de proteção que previnem novos danos, ao mesmo tempo em que permitem ao público acessar um dos sítios arqueológicos mais importantes do Egito Antigo.