A panspermia é a hipótese que sugere que a vida pode resistir e se espalhar entre corpos planetários, oferecendo um caminho alternativo para o surgimento de vida em planetas dentro de um sistema solar. A descoberta de vida extraterrestre em asteroides ou embutida em meteoritos aprofundaria significativamente nossa compreensão sobre as origens da vida e sua potencial distribuição pelo universo.
Relatos de micro-organismos descobertos em meteoritos condritos têm gerado debates sobre a possibilidade de vida extraterrestre ter chegado à Terra e seu papel nas origens da vida aqui. Embora muitos estudos tenham atribuído essas assinaturas microbianas à contaminação terrestre, o argumento de que elas possam ser de origem extraterrestre persiste.
Contribuindo para esse debate, pesquisadores do Imperial College London revelaram que uma amostra retornada do espaço do asteroide Ryugu foi rapidamente colonizada por micro-organismos terrestres, apesar das rigorosas medidas de controle de contaminação. Essa descoberta destaca os desafios em distinguir entre contaminação terrestre e vida extraterrestre genuína.
No estudo intitulado “Colonização rápida de uma amostra retornada do espaço do Ryugu por micro-organismos terrestres”, publicado na Meteoritics & Planetary Science, os pesquisadores examinaram uma partícula minúscula (1 × 0,8 mm) conhecida como amostra A0180. Essa amostra foi coletada pela missão Hayabusa 2 da JAXA no asteroide 162173 Ryugu.
Para garantir contaminação mínima, a amostra foi transportada para a Terra em uma câmara hermeticamente selada e aberta em uma sala limpa classe 10.000, preenchida com nitrogênio. Cada partícula foi cuidadosamente manuseada com ferramentas esterilizadas e armazenada em recipientes herméticos sob nitrogênio. Antes da análise, a amostra passou por tomografia computadorizada Nano-X e foi embutida em um bloco de resina epóxi para investigação adicional utilizando microscopia eletrônica de varredura.
Foram identificadas varas e filamentos orgânicos, interpretados como micro-organismos filamentosos, na superfície da amostra do Ryugu. Essas estruturas exibiram variações em tamanho e morfologia que lembravam de perto micro-organismos terrestres conhecidos. Curiosamente, sua abundância flutuou ao longo do tempo, sugerindo o crescimento e declínio de uma população procariótica com um tempo de geração estimado em 5,2 dias.
A análise populacional revelou que esses micro-organismos provavelmente resultaram de contaminação terrestre durante o processo de preparação da amostra, em vez de serem nativos do asteroide. Essa descoberta destaca os desafios de distinguir entre contaminantes terrestres e possíveis formas de vida extraterrestre em tais estudos.
O estudo concluiu que micro-organismos terrestres haviam rapidamente colonizado o material extraterrestre, apesar das rigorosas medidas de controle de contaminação. Para enfrentar esse desafio, os pesquisadores destacaram a necessidade de protocolos aprimorados de controle de contaminação em futuras missões de retorno de amostras, a fim de prevenir a colonização microbiana e preservar a integridade das amostras extraterrestres.
Um obstáculo chave para obter amostras livres de contaminação é o desafio inerente de coletar material extraterrestre utilizando ferramentas e equipamentos desenvolvidos em um planeta repleto de vida microbiana. Isso destaca a necessidade de estratégias inovadoras para minimizar os riscos de contaminação na exploração de corpos celestes.
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A NASA adota medidas extensivas para evitar a introdução de micro-organismos terrestres em Marte, montando sondas e módulos de pouso em ambientes de sala limpa meticulosamente controlados. Apesar desses esforços, a tarefa tem se mostrado extraordinariamente difícil. Algumas espécies microbianas foram descobertas em salas limpas da NASA que não apenas resistem aos métodos de desinfecção, mas também se adaptam utilizando os agentes de limpeza como fonte de alimento.
Esses micro-organismos resilientes destacam o desafio persistente de manter a proteção planetária e prevenir contaminação durante missões interplanetárias.
A pesquisa foi publicada na revista Meteoritics & Planetary Science.