Pedro Adalid Ruíz, Universidad CEU San Pablo
No mundo moderno, as telas estão por toda parte — em nossas salas de aula, locais de trabalho, casas e até nos nossos bolsos. Para crianças e adolescentes, elas podem ser uma janela para o aprendizado, o entretenimento e a conexão com o mundo. No entanto, o excesso de tempo diante das telas pode trazer sérias consequências.
Adultos passam, em média, entre seis e sete horas por dia em frente a telas. Na Espanha, como em grande parte da Europa, crianças e adolescentes passam mais de três horas por dia olhando para telas — número que pode dobrar nos fins de semana.
Essa exposição intensa traz problemas evidentes, como o roubo de tempo de outras atividades benéficas, como a prática de esportes ou a socialização presencial. Ela também tem impactos negativos à saúde, que vão desde miopia, dores de cabeça e problemas musculoesqueléticos até menor capacidade de atenção e atrasos no desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas e de comunicação em crianças.
Além dos impactos das redes sociais na saúde mental dos jovens, a ubiquidade das telas está levando muitas famílias e professores a se perguntarem se a educação sem tecnologia — ou ao menos com menos tempo de tela — não seria melhor.
No entanto, também precisamos ensinar as crianças a lidar com a internet e a trabalhar com a tecnologia. Treinar os jovens em habilidades digitais, como pensamento crítico e cibersegurança, é essencial para mantê-los seguros online.
Além disso, plataformas digitais como Google Classroom, Duolingo e Kahoot! revolucionaram o aprendizado, tornando-o mais acessível e personalizado, tanto na sala de aula quanto em casa.
É possível encontrar equilíbrio
Escolas ao redor do mundo estão encontrando formas de equilibrar os riscos e os benefícios da tecnologia em sala de aula. Um caso de sucesso inspirador é o de uma escola na Finlândia que implementou um modelo híbrido, combinando o aprendizado digital com atividades práticas. Como resultado, os alunos melhoraram seu desempenho acadêmico e desenvolveram habilidades tecnológicas avançadas.
Outros exemplos bem-sucedidos — como os programas “Abraza tus valores” (Abrace seus valores) e “Párate a pensar” (Pare para pensar) da Aldeas Infantiles SOS na Espanha — promovem o uso equilibrado da tecnologia entre os jovens.
Os Estados Unidos também apresentam programas como o desenvolvido pela The Step by Step School. Essa iniciativa enfatiza o uso moderado e intencional da tecnologia, incorporando aplicativos educacionais que apoiam o desenvolvimento das crianças e estimulam a criatividade, estabelecendo limites claros para o tempo de tela e promovendo atividades fora dos dispositivos, como brincadeiras ao ar livre e projetos práticos.
Uma questão de equidade
As telas podem oferecer acesso ao conhecimento e facilitar nossas vidas, mas não podemos permitir que se tornem substitutas das experiências humanas reais. A educação digital deve ser complementada com atividades que desenvolvam habilidades sociais, emocionais e físicas.
A solução para o uso excessivo de telas não é abandonar completamente a tecnologia em sala de aula. Ignorar essas ferramentas tecnológicas na educação privaria os alunos das habilidades necessárias para atuar em um mundo cada vez mais interconectado. Em vez disso, devemos garantir que elas sejam utilizadas em todo seu potencial.
Na Espanha, 70% das crianças entre 10 e 15 anos possuem um smartphone, com números semelhantes ou até mais altos em toda a União Europeia. Embora esses números sejam altos, eles mostram apenas parte da realidade. Os smartphones são ferramentas — e, como qualquer ferramenta, saber usá-los de forma adequada e segura é fundamental.
Crianças, assim como muitos adultos, usam a internet e as redes sociais de forma acrítica. Ser apenas consumidor do que a internet oferece pode limitar seriamente sua capacidade de integração social.
Esse aspecto da divisão digital é onde as escolas podem nivelar o campo de jogo, oferecendo acesso a recursos tecnológicos e promovendo a equidade de oportunidades. Ao implementar programas de letramento digital, elas podem garantir que todos os alunos, independentemente de sua origem socioeconômica, tenham oportunidades iguais de sucesso.
Esse é um desafio coletivo, e pais, professores e jovens devem trabalhar juntos para construir hábitos saudáveis e conscientes. Para isso, precisamos responder a perguntas cruciais sobre como usamos nosso tempo diante das telas e como podemos aproveitar os benefícios da tecnologia sem cair em seus riscos. No fim das contas, o objetivo não é viver sem telas, mas aprender a conviver com elas de maneira inteligente.
Pedro Adalid Ruíz, Professor Universitário de Políticas de Qualidade Educativa e Planos de Melhoria, Universidad CEU San Pablo
Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.