Gigante gasoso é fotografado em pesquisa de exoplanetas

Astrônomos do projeto Young Suns Exoplanet Survey (YSES) anunciaram a descoberta de um candidato a planeta com massa entre 3 e 5 vezes a de Júpiter, localizado a impressionantes 730 unidades astronômicas de sua estrela hospedeira — cerca de 24 vezes a distância entre o Sol e Netuno. A detecção foi realizada por meio de imagens diretas com o instrumento SPHERE, instalado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, e complementada com observações do MagAO-X, no telescópio Magellan.
Os detalhes da pesquisa foram divulgados em um artigo científico publicado no arXiv, o repositório de pré-publicações da área de física e astronomia. Segundo o estudo, o objeto — ainda em fase de confirmação — representa um caso raro de planeta frio, de baixa massa, orbitando em separação extrema.
Sistema estelar central apresenta dinâmica complexa
As observações revelaram que a estrela 2MASS J10065573-6352086 (ou 2M1006) é, na verdade, um sistema binário composto por uma estrela similar ao Sol (com massa estimada em 1,03 M☉) e uma companheira mais fria e menos luminosa. Mas os dados sugerem que essa configuração pode ser ainda mais complexa.
“Há fortes indícios de que este sistema possui pelo menos um terceiro componente estelar ainda não resolvido”, afirmam os autores. Essa suspeita surge de inconsistências entre o movimento orbital observado, a diferença de velocidades radiais, o excesso de luminosidade da estrela secundária e a alta RUWE — uma métrica usada pelo catálogo Gaia para avaliar a qualidade dos dados astrométricos.
Além disso, a diferença de velocidade radial entre as duas estrelas, estimada em 96,5 ± 6,6 km/s, supera em muito a velocidade de escape esperada para o sistema, sugerindo que as estrelas podem não estar gravitacionalmente ligadas — ou que alguma massa significativa permanece invisível.
Formação planetária desafiada pela grande separação
A existência de um planeta massivo tão afastado do centro do sistema representa um desafio direto às principais teorias de formação de gigantes gasosos.
A teoria da acreção de núcleo — a mais aceita — prevê que planetas gasosos se formem relativamente perto de suas estrelas, onde o material do disco protoplanetário é mais denso. Já o modelo de instabilidade gravitacional pode formar planetas em órbitas mais amplas, mas normalmente entre 20 e 200 ua. O novo candidato ultrapassa essa faixa com folga.
“Um planeta tão distante teria que se formar extremamente rápido ou migrar por mecanismos ainda pouco compreendidos”, destacam os pesquisadores.
Dados de movimento sugerem possível ligação gravitacional
Embora o movimento próprio do candidato seja compatível com o da estrela central, a incerteza sobre o centro de massa exato do sistema impede a confirmação definitiva de que se trata de um planeta em órbita. A hipótese alternativa é a de um objeto errante — um planeta interestelar capturado ou um análogo a anãs marrons.
Modelos estatísticos aplicados ao campo estelar ao redor indicam uma probabilidade extremamente baixa (0,000052%) de que o objeto seja um alinhamento fortuito com uma estrela de fundo.
“Se for confirmado como um planeta ligado ao sistema, trata-se de uma descoberta extraordinária”, afirma a equipe. “Mas mesmo que seja um objeto errante, sua identificação é cientificamente valiosa.”
Próximos passos: espectroscopia e monitoramento contínuo
Confirmar a natureza do objeto exigirá monitoramento contínuo do sistema e espectroscopia detalhada do candidato. O objetivo é medir sua composição atmosférica e variações orbitais com maior precisão.
Segundo os pesquisadores, “as observações de longo prazo em imagem direta e velocidade radial, além de espectros do candidato, são fundamentais para resolver a natureza desse sistema incomum”.
Se comprovado, este será mais um exemplo de planeta de baixa massa em órbita extrema — um tipo de objeto raro que obriga os astrônomos a repensar os limites e mecanismos da formação planetária.