Hino à Babilônia é descoberto

Um hino em acádio, datado entre os séculos VII e I a.C., foi descoberto. A composição, que exalta a cidade de Babilônia, seu templo e seus habitantes, era até então desconhecida da literatura especializada, embora estivesse presente em pelo menos 20 manuscritos de diferentes períodos e origens.
Segundo os autores Anmar A. Fadhil e Enrique Jiménez, o texto reúne elementos religiosos, cosmológicos e éticos, revelando um exemplo raro de literatura babilônica que descreve a cidade não apenas como centro político e espiritual, mas também como modelo de conduta moral. “O texto contém descrições inigualáveis dos poderes curativos de Marduque, do esplendor de Babilônia, da primavera trazida pelo Eufrates aos campos da cidade e — mais extraordinário de tudo — da generosidade dos próprios babilônios”, afirmam os pesquisadores no artigo publicado pela revista Iraq, da Cambridge University Press.
O hino circulou por séculos e foi amplamente utilizado no ensino de escribas. Sua presença recorrente em tábuas escolares indica que o texto fazia parte do currículo das escolas mesopotâmicas. Fragmentos foram encontrados em Sippar, Babilônia, Nínive e Assur, confirmando sua difusão em todo o sul da Mesopotâmia durante o primeiro milênio antes de nossa era.
A composição era provavelmente memorizada pelos alunos, uma prática comum nas escolas de escribas, onde o domínio da tradição literária era central para a formação profissional e religiosa.

O texto é dividido em seis seções: um hino a Marduque; um segundo hino, agora de um deus dirigido a Marduque; louvores ao templo Esagil; à cidade de Babilônia; ao povo babilônio; e uma parte final danificada, cujo conteúdo exato ainda é incerto.
Na segunda seção, a divindade que se dirige a Marduque afirma: “Tu adoças as palavras do aflito diante de todos como mel”. O mesmo trecho exalta o deus como aquele que “apoia os fracos” e “reconcilia os deuses irados”.
O texto também associa Marduque às três forças elementares do universo — água, fogo e ar —, ligando-as aos deuses Ea, Anu e Enlil. Essa relação aparece em outras tradições babilônicas, como no hino sincrético Eriš šummi, e revela uma cosmovisão na qual a organização do mundo é atribuída diretamente à divindade tutelar da cidade.
Ao descrever Babilônia, o autor afirma que suas “ordenanças são perfeitas” e que a cidade é “um amontoado de pedras preciosas”. O trecho mais lírico é a descrição da chegada da primavera, trazida pelas águas do Eufrates, que fertilizam os campos, alimentam os rebanhos e fazem brotar os grãos.
Segundo Fadhil e Jiménez, esse tipo de descrição naturalista é raro na literatura acádica. “Apenas uma outra passagem semelhante sobre a primavera é conhecida, no prólogo cosmogônico do poema O boi e o cavalo”, observam.

Uma das contribuições mais relevantes do texto é o retrato idealizado dos cidadãos de Babilônia. Eles são descritos como protetores dos órfãos, seguidores das leis divinas e respeitosos com os estrangeiros. Um trecho sugere que essa virtude se aplicava especialmente aos sacerdotes de outras regiões, que viviam e atuavam em Babilônia.
“As mulheres babilônias também recebem destaque, sobretudo as sacerdotisas”, escrevem os autores. “O principal valor feminino exaltado no texto é a devoção e a discrição”.
O hino termina com uma fórmula de reconhecimento: “Estes são os que foram libertados por Marduque”.