Novas pesquisas sugerem que Ganimedes, a maior lua de Júpiter e do sistema solar, sofreu um impacto devastador há bilhões de anos, o que pode ter alterado sua estrutura interna e seu eixo de rotação. Essa lua é única, pois é a única no sistema solar que tem seu próprio campo magnético e, como a Terra, mantém uma face fixa em direção a Júpiter.
No lado oposto de Ganimedes, os cientistas identificaram sinais de uma cratera gigante, que pode ser a cicatriz de um evento catastrófico ocorrido há cerca de 4 bilhões de anos. Um asteroide, possivelmente 20 vezes maior do que o que causou a extinção dos dinossauros, com um raio de aproximadamente 150 quilômetros, colidiu com Ganimedes. Esse impacto criou uma cratera transitória com um raio estimado de 700 quilômetros, uma área vasta o suficiente para abranger um sexto do território dos Estados Unidos.
Acredita-se que Ganimedes tenha um oceano subterrâneo, escondido sob uma espessa camada de gelo e rocha. O impacto maciço pode ter contribuído para a formação desse oceano e teria sido intenso o suficiente para alterar o eixo de rotação da lua. Com o tempo, essa alteração fez com que a cicatriz do impacto se afastasse de Júpiter, resultando na orientação atual de Ganimedes.
O planetologista Naoyuki Hirata, da Universidade de Kobe, no Japão, está liderando a pesquisa sobre esse impacto. Ele comenta que “esse impacto afetaria significativamente a estrutura interior de Ganimedes, pois o tamanho da cratera transitória chega a 25% do tamanho de Ganimedes”. Hirata acrescenta: “Além disso, sabe-se que a própria reorientação pode causar um aquecimento significativo no interior devido à dissipação das marés. Isso poderia estar associado à origem do oceano interno de Ganimedes. Pretendo estudar esse tópico em minha pesquisa futura.”
As simulações conduzidas por Hirata indicam que o local específico do impacto é irrelevante para o resultado observado: desde que o evento tenha sido de grande magnitude, a reorientação de Ganimedes seria inevitável, colocando a cicatriz do impacto na posição que a vemos hoje.
Em um estudo publicado na Scientific Reports, Hirata detalha que o asteroide responsável por esse impacto tinha cerca de 300 km de diâmetro. Ele explica que, “imediatamente após o impacto, ele teria criado uma cratera de 1.400 a 1.600 km de largura”. As simulações de Hirata sugerem que somente um impacto dessa escala poderia ter sido capaz de deslocar o eixo de rotação de Ganimedes.
Apesar das evidências obtidas até o momento, ainda há muitas incógnitas sobre Ganimedes. São necessárias observações mais detalhadas para confirmar essas descobertas e avançar em outras investigações. A missão JUICE (Jupiter Icy Moons Explorer) da Agência Espacial Europeia está programada para chegar ao sistema joviano em 2031. Em 2034, a JUICE se tornará a primeira espaçonave a orbitar Ganimedes, fornecendo dados valiosos para aprofundar nossa compreensão dessa lua fascinante.
Hirata está aguardando ansiosamente os dados da missão JUICE. Ele explica: “Estou realmente ansioso pelos dados da JUICE. As naves espaciais Voyager 1/2 e Galileo observaram Ganimedes, mas muitas áreas de Ganimedes ainda não foram fotografadas com resolução suficiente”. Ele continua: “A precisão atual das medições da gravidade e da topografia de Ganimedes é nula ou muito insuficiente. Explorações futuras revelariam um remanescente de perfis topográficos ou anomalias de gravidade associadas ao impacto formador de sulcos e à reorientação de Ganimedes, o que forneceria informações sobre esse impacto gigante e sobre o início da história de Ganimedes.”
Em resumo, Ganimedes não é apenas a maior lua do sistema solar, com um diâmetro de mais de 5.260 km, maior até do que o planeta Mercúrio, mas também um objeto celestial de imenso interesse científico. Suas características únicas e a possibilidade de um impacto colossal que moldou sua estrutura fazem de Ganimedes um ponto focal na busca de respostas sobre a formação e a evolução das luas de gelo e, talvez, de evidências de vida extraterrestre em nosso sistema solar.
Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista Scientific Reports.