Nova abordagem para lesão na medula espinhal

Uma pesquisa publicada na Nature Communications apresenta uma inovação promissora no tratamento de lesões na medula espinhal. Cientistas da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) e da Universidade de Tecnologia de Chalmers (Suécia) desenvolveram um implante ultrafino que, ao aplicar campos elétricos diários, melhorou significativamente a recuperação motora e sensorial em ratos com lesão torácica na medula. O tratamento não provocou efeitos colaterais inflamatórios e manteve estabilidade ao longo de 12 semanas.
As lesões medulares afetam a comunicação entre o cérebro e o corpo, resultando em perda de movimento, sensibilidade e até funções autonômicas como controle da bexiga. Não há cura definitiva, e mesmo pequenas melhorias podem fazer grande diferença na qualidade de vida dos pacientes. O uso de estimulação elétrica já é conhecido na medicina, mas sua eficácia ainda é limitada por problemas técnicos, como a corrosão dos eletrodos metálicos e a dificuldade em atingir áreas profundas da medula.
Neste novo estudo, os pesquisadores utilizaram um implante de filme fino equipado com eletrodos de óxido de irídio (SIROF), colocados diretamente sob a dura-máter — a camada protetora que envolve a medula espinhal. Essa posição subdural permite que o campo elétrico penetre com mais força no tecido nervoso, mesmo usando correntes de baixa intensidade. Isso reduz o risco de danos e aumenta a precisão do estímulo.
Os testes foram realizados em ratos com lesão controlada entre os segmentos L1 e L2 da medula. O grupo tratado recebeu sessões diárias de uma hora de estimulação elétrica com pulsos de 250 milissegundos a 2 hertz. Outro grupo, com a mesma lesão, não recebeu tratamento, servindo de controle. Um terceiro grupo não sofreu lesão, permitindo comparação com animais saudáveis.
Os resultados foram claros. A partir da quarta semana, os ratos tratados superaram os não tratados em testes de função motora, usando a escala BBB, que avalia a movimentação das patas traseiras. Até a 12ª semana, todos os ratos tratados atingiram pontuações acima de 14, indicando movimentação coordenada entre patas dianteiras e traseiras. No grupo controle, apenas 20% chegaram a esse nível.

A sensibilidade ao toque também foi melhor nos animais tratados. Um teste com filamento mecânico mostrou que eles reagiam mais rapidamente ao estímulo nas patas, indicando recuperação sensorial precoce — já visível na primeira semana de tratamento.
Curiosamente, a análise histológica do tecido lesionado não mostrou aumento na densidade de axônios ou sinais de regeneração, o que sugere que a melhora funcional pode ter ocorrido por mecanismos alternativos, como proteção das células nervosas ou reorganização de conexões existentes.

Outro ponto positivo foi a tolerância do corpo ao implante. Ao fim do experimento, não foram observados sinais de inflamação ou rejeição nos tecidos em contato com os eletrodos. Simulações computacionais confirmaram que a configuração subdural permite uma distribuição mais eficiente do campo elétrico na medula, usando menos energia e com menor risco de reações adversas.

Em testes de bancada, os eletrodos SIROF mostraram estabilidade mesmo após 90 horas de estimulação contínua, sem sinais de degradação. Isso reforça seu potencial para uso prolongado em aplicações clínicas.
Apesar dos bons resultados, os pesquisadores alertam que ainda são necessários mais estudos, especialmente para identificar o melhor momento e intensidade da estimulação. Também planejam investigar se o tratamento pode gerar efeitos duradouros mesmo após a interrupção do estímulo.
A técnica representa um avanço significativo e pode, no futuro, contribuir para o desenvolvimento de terapias regenerativas em humanos com lesão medular. O uso de implantes subdurais, embora mais invasivo, oferece vantagens importantes em termos de eficácia e segurança.