Plantas brasileiras mostram potencial contra o câncer de estômago

Uma revisão publicada na revista científica Oncoscience analisou 25 anos de estudos sobre os efeitos de plantas nativas do Brasil no combate ao câncer de estômago. A doença, considerada uma das mais letais no mundo, foi responsável por cerca de 660 mil mortes em 2022, segundo estimativas globais. No Brasil, a projeção é de mais de 21 mil novos casos por ano.
O levantamento, conduzido pelos pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Iara Lopes Lemos e Mario Roberto Maróstica Júnior, avaliou dados experimentais sobre compostos bioativos encontrados em espécies brasileiras, como polifenóis, flavonoides e terpenos, frequentemente associados às atividades antioxidante, anti-inflamatória e anticancerígena.
Ao compilar e analisar esta pesquisa, os autores buscam destacar o valor ainda pouco explorado da biodiversidade brasileira na busca por novas estratégias de prevenção do câncer.
O câncer de estômago continua sendo um dos tipos mais letais no mundo e, frequentemente, é diagnosticado em estágios avançados. A revisão aponta que muitos fatores contribuem para o desenvolvimento da doença, incluindo alimentação inadequada, infecções e fatores genéticos. No entanto, há evidências de que o consumo regular de frutas e vegetais ricos em compostos naturais, como polifenóis e flavonoides, pode ajudar a reduzir o risco. A literatura analisada sugere que plantas nativas do Brasil podem oferecer efeitos protetores semelhantes.
“[…] o consumo regular de frutas e vegetais ricos em compostos bioativos, como polifenóis e flavonoides, demonstrou efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e quimiopreventivos no câncer gástrico.”
O estudo aborda dez espécies nativas, incluindo açaí, cacau, goiaba, pitanga, jambu e physalis. Extratos dessas plantas apresentaram sinais de redução no crescimento de células cancerígenas, indução da morte celular e desaceleração da progressão da doença. Embora os mecanismos biológicos exatos ainda não estejam totalmente esclarecidos em muitos casos, alguns estudos relataram diminuição da inflamação e interrupção de sinais celulares relacionados ao câncer. Esses achados apontam para a possibilidade de que substâncias naturais de origem vegetal possam apoiar os esforços de prevenção ou controle do câncer gástrico.
A maioria dos estudos incluídos na revisão foi realizada com modelos celulares em laboratório, sendo poucos os que utilizaram modelos animais e nenhum com participação humana em ensaios clínicos. Essa limitação indica que, embora os resultados iniciais sejam promissores, são necessárias mais pesquisas para entender como esses compostos atuam no corpo humano e avaliar sua segurança e eficácia em contextos reais.
Essa revisão ressalta o valor de explorar a rica biodiversidade vegetal do Brasil para fins médicos. Muitas dessas espécies ainda são cientificamente pouco estudadas, especialmente no contexto da prevenção do câncer. Ao chamar a atenção para seu potencial, os autores esperam incentivar mais pesquisas que possam levar ao desenvolvimento de novas terapias naturais. Seu trabalho contribui para o crescente reconhecimento de que fontes tradicionais e naturais podem desempenhar um papel significativo na medicina moderna.