Poluição do ar está associada a maior risco de hemorragias cerebrais

Um estudo publicado na revista npj Clean Air lança luz sobre um risco pouco discutido da poluição atmosférica: a relação entre a exposição prolongada a partículas finas no ar e o desenvolvimento de hemorragia subaracnóidea aneurismática (aSAH), uma condição grave e frequentemente fatal.
Diferente de outros tipos de derrames, aSAH ocorre quando um aneurisma — uma dilatação anormal nos vasos sanguíneos do cérebro — se rompe, provocando sangramento intenso e súbito. O que chama a atenção na nova pesquisa é que o risco de rompimento parece aumentar meses após picos de poluição por PM2.5, partículas inaláveis com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros, capazes de penetrar profundamente nos pulmões e atingir a corrente sanguínea.
Os dados foram coletados ao longo de cinco anos no estado de Utah, nos Estados Unidos, uma região caracterizada por ciclos sazonais de poluição devido à inversão térmica no inverno e à fumaça de incêndios florestais no verão.
O estudo analisou 70 casos de aSAH e comparou os registros hospitalares com as medições de poluentes do ar feitas por estações próximas às residências dos pacientes.
Os resultados indicaram que os níveis de PM2.5 no período de 3 a 6 meses antes da hemorragia estavam significativamente associados a um maior risco de rompimento de aneurismas. Curiosamente, a exposição mais próxima do evento — nos dias ou semanas anteriores — não apresentou correlação relevante. Isso sugere um efeito retardado da poluição sobre os mecanismos inflamatórios e vasculares do cérebro.

Além do material particulado, a pesquisa também apontou que a pressão atmosférica no dia do evento teve impacto significativo no risco de hemorragia. Esse achado corrobora outras investigações que relacionam variações meteorológicas com a ruptura de aneurismas.
Ainda que os autores reconheçam limitações — como o tamanho reduzido da amostra e o caráter retrospectivo do estudo —, os resultados são consistentes com uma tendência emergente na ciência ambiental: a de que os efeitos da poluição vão muito além dos pulmões e podem se acumular silenciosamente no organismo por semanas ou meses.
Em um momento em que eventos climáticos extremos e a má qualidade do ar afetam milhões de pessoas, a descoberta reforça a urgência de políticas públicas voltadas à redução da poluição. A relação entre o ambiente em que vivemos e nossa saúde vascular cerebral é mais estreita do que se imaginava — e pode custar vidas.