Estudo testa eficácia de realidade mista na neurocirurgia

A colocação de dreno ventricular externo, um procedimento comum e urgente na neurocirurgia, ainda é feita de forma manual e sem orientação por imagem em tempo real. O cirurgião se baseia apenas em pontos de referência no crânio e em sua própria experiência. Como consequência, até 60% dos cateteres são inseridos fora da posição ideal.
Esses erros podem significar drenagem ineficaz, necessidade de nova intervenção e aumento do risco para o paciente. Embora existam sistemas de neuronavegação, eles são caros, demorados de configurar e raramente disponíveis em emergências. Além disso, o uso excessivo dessas tecnologias pode prejudicar o desenvolvimento da habilidade manual.
Buscando uma solução acessível e eficaz, pesquisadores da Universidade de Bolonha criaram o NeuroMix, um simulador que usa realidade mista para treinar médicos no procedimento de colocação de dreno ventricular externo. A ideia é simples: oferecer treinamento intensivo em um ambiente digital imersivo, e depois testar se o aprendizado permanece mesmo sem nenhum auxílio visual.
O estudo comparou três grupos de treinamento:
- Sem ajuda visual (apenas imagens de tomografia);
- Com ajuda 2D (projeções nas imagens);
- Com ajuda combinada 2D e 3D (guia animado da trajetória ideal).
Na fase final, todos os participantes — inclusive um grupo controle que não treinou — realizaram o procedimento fisicamente, com cateter real e crânio artificial, sem nenhum suporte visual.
O desempenho dos médicos foi medido pela precisão do cateter em relação ao ponto ideal dentro do cérebro.

O grupo que treinou com ajuda 2D–3D teve os melhores resultados:
- Erro médio de 1,47 cm, contra 2,64 cm no grupo sem treino.
- Redução de 44% na margem de erro, mesmo sem uso de realidade mista na hora do teste.
- Melhores resultados também nos ângulos de inclinação e rotação do cateter.
Apesar de mais demorados na execução, esses médicos demonstraram maior controle e cuidado, indicando que o treinamento com ajuda visual fortaleceu sua percepção espacial e memória do procedimento.
Todos os participantes consideraram o simulador fácil de usar. As três versões (sem ajuda, com ajuda 2D e com 2D–3D) receberam nota alta em usabilidade e aceitação tecnológica, segundo escalas padrão aplicadas após o treinamento. A versão com auxílio visual completo não aumentou a carga mental dos participantes, contrariando a ideia de que mais informações causariam sobrecarga.
O sistema NeuroMix foi implementado no Meta Quest 3, um headset de realidade mista mais barato que os usados em hospitais. Para simular a resistência do cérebro, o crânio artificial usado nos testes foi preenchido com material à base de agar, e sensores registraram todos os movimentos do cateter em tempo real.
Diferentemente de sistemas baseados em imagem médica ao vivo, o NeuroMix serve apenas para treinamento, mas com uma vantagem: prepara médicos para agir com precisão mesmo sem tecnologia por perto — como ocorre na maioria dos plantões.
📚 Referência: CASCARANO, Pasquale et al. Towards the target and not beyond: 2D vs 3D visual aids in MR-based neurosurgical simulation. arXiv preprint arXiv:2506.05164v1, 2025. Disponível em: arxiv.org.