Realidade virtual na reabilitação de pacientes após AVC

A realidade virtual (VR) tem ganhado espaço como ferramenta de apoio na reabilitação de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC). Segundo uma revisão da Cochrane, uma das organizações mais respeitadas em pesquisas na área da saúde, essa tecnologia pode trazer benefícios modestos, especialmente na recuperação da função dos membros superiores e no equilíbrio dos pacientes.
A análise reuniu 190 estudos, envolvendo mais de 7.100 pacientes que passaram por algum tipo de reabilitação pós-AVC utilizando realidade virtual. Os resultados sugerem que a VR, quando comparada a terapias tradicionais, oferece uma melhora discreta na função dos braços e na capacidade de realizar atividades do dia a dia.
Além disso, quando a realidade virtual é adicionada aos cuidados habituais, os ganhos se tornam mais expressivos. O estudo aponta que essa combinação provavelmente melhora a função dos membros superiores e reduz limitações nas atividades diárias.
Por outro lado, os pesquisadores destacam que não há evidências sólidas de que a tecnologia impacte significativamente a velocidade da marcha ou a qualidade de vida dos pacientes.
De acordo com os autores, a realidade virtual oferece vantagens importantes em relação às terapias convencionais. Ela permite que os pacientes realizem atividades simuladas de forma segura, divertida e motivadora, o que favorece o engajamento e o aumento do tempo dedicado à reabilitação.
Os programas variam desde jogos simples, como os oferecidos por consoles comerciais (Nintendo Wii, Kinect, Playstation EyeToy), até sistemas imersivos com sensores de movimento e óculos de realidade virtual, que simulam ambientes complexos, como atravessar ruas ou realizar tarefas domésticas.
Além disso, a interação com ambientes virtuais estimula mecanismos de neuroplasticidade, fundamentais para a recuperação de funções motoras após o AVC.
Uma preocupação recorrente sobre o uso da realidade virtual na saúde é a possibilidade de efeitos adversos. No entanto, o levantamento da Cochrane indica que os efeitos colaterais são raros e leves, como tontura, dor de cabeça ou desconforto ocasional, sem registros de eventos graves.
Apesar dos resultados positivos, os próprios pesquisadores alertam sobre a qualidade metodológica dos estudos, que em grande parte são pequenos e apresentam riscos de viés. Isso significa que, embora a tendência dos dados seja favorável à VR, os resultados devem ser interpretados com cautela.
Outro ponto observado é que poucos estudos utilizaram sistemas realmente imersivos, o que sugere que ainda há espaço para explorar melhor o potencial dessa tecnologia na área da saúde.
Os dados mostram que a realidade virtual é uma ferramenta útil e segura, capaz de complementar os métodos tradicionais de reabilitação. Ela não substitui completamente os tratamentos convencionais, mas pode ser um aliado valioso, especialmente para melhorar o desempenho dos braços, o equilíbrio e a execução de atividades do cotidiano.
No entanto, mais pesquisas robustas são necessárias para entender melhor quais tipos de realidade virtual são mais eficazes, por quanto tempo devem ser aplicados e qual seu real impacto na qualidade de vida dos pacientes.
Mais informações: Laver KE, Lange B, George S, Deutsch JE, Saposnik G, Chapman M, Crotty M. Virtual reality for stroke rehabilitation. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2025, Issue 6. Art. No.: CD008349. DOI: 10.1002/14651858.CD008349.pub5.