Engasgar é apenas um dos riscos à saúde causados por engolir espinhas de peixe

A jurada do Strictly Come Dancing, Shirley Ballas, revelou recentemente que “achou que era o fim” depois que uma espinha de peixe ficou presa em sua garganta. O terrível episódio de Ballas durou 20 minutos, com a jurada lutando para respirar até que sua cabeleireira e maquiadora conseguiu desalojar a espinha usando a manobra de Heimlich (também conhecida como compressões abdominais).
Ballas certamente não foi a primeira pessoa a aparecer nas notícias por um episódio assim. Até mesmo a falecida Rainha-Mãe já havia passado por algo semelhante.
Espinhas de peixe são, na verdade, um dos motivos mais comuns pelos quais pessoas acabam no pronto-socorro. Esse fenômeno é particularmente comum em países asiáticos, onde a dieta tende a incluir muito peixe. O problema é tão grande que, na China, surgiram clínicas especializadas em remoção de espinhas de peixe.
Embora peixes sejam uma boa fonte de muitos minerais, proteínas e ácidos graxos benéficos ao coração, eles também contêm várias pequenas e delicadas espinhas em forma de “pinos” – geralmente no filé.
Bacalhaus têm aproximadamente 17 espinhas desse tipo e salmões têm cerca de 30 – embora alguns peixes possam ter mais de 100. Espinhas de enguia também têm sido frequentemente associadas a idas ao pronto-socorro, enquanto as espinhas do linguado são particularmente perigosas devido ao número e ao tamanho – o que facilita que fiquem presas mais profundamente na garganta.
Isso significa que, apesar do cuidado no preparo dos alimentos, algumas podem passar despercebidas. Essas espinhas podem ser perigosas se engolidas acidentalmente – e engasgar é apenas uma das complicações sérias que podem causar.
Espinhas de peixe geralmente ficam presas nas amígdalas no fundo da garganta, na faringe (na parte posterior da boca), no seio piriforme (uma pequena cavidade que desempenha um papel na deglutição) e, é claro, no esôfago (o canal que conecta a garganta ao estômago).
Se você acidentalmente engolhar uma espinha, provavelmente sentirá tosse, sensação de arranhão ou de “algo preso” na garganta, além de dor ou dificuldade ao engolir e cuspir sangue.
No entanto, elas nem sempre causam sintomas – e algumas pessoas acabam vivendo sem saber que têm uma espinha presa na garganta. Por exemplo, em 2012, uma mulher japonesa de 69 anos foi ao hospital reclamando de um inchaço no pescoço – apenas para os médicos descobrirem que ela tinha uma espinha de 32 mm que estava presa na garganta havia nove meses.
Espinhas não identificadas também podem migrar pelo pescoço. A deglutição repetida pode fazer com que penetrem a parede do esôfago e se movam para os espaços estreitos do pescoço.
Nessa região, a espinha representa alto risco para o grande número de nervos e vasos sanguíneos críticos que passam pelo pescoço – como a artéria carótida, um dos principais vasos que levam sangue ao cérebro.

As espinhas também podem perfurar a glândula tireoide, o que pode causar abscessos e inflamação. Isso também pode levar à sepse, uma complicação rara, porém extremamente perigosa.
Em alguns casos, espinhas presas conseguiram até migrar para os músculos do pescoço e sob a pele. Elas podem até atravessar a pele – como aconteceu recentemente com uma mulher tailandesa.
Qualquer espinha que consiga migrar para fora da garganta é uma emergência cirúrgica, pois não há outra forma de removê-la. Essas espinhas também podem causar infecções nos espaços ao redor do coração, ou migrar para a medula espinhal, levando a infecções secundárias que podem causar paralisia.
É por isso que é fundamental que, se você engolir uma espinha, tente removê-la o quanto antes.
O que fazer
Espinhas de peixe presas podem ser removidas de várias maneiras.
Para algumas pessoas, uma tosse forte pode ser suficiente para expulsá-la. Essa técnica é mais eficaz quando a espinha está presa na via aérea, e não no esôfago.
Mas um problema da tosse é que, em vez de expulsá-la, ela pode deslocar a espinha e permitir que ela vá para o estômago e pelos intestinos, onde há risco de perfuração.
Espinhas presas na parede do esôfago podem potencialmente atravessar o corpo, mas muitos casos exigem remoção endoscópica.
Algumas dicas sugerem que comer algo como pão ou banana pode empurrar a espinha para baixo, mas não há evidências científicas que apoiem esse método. Isso pode até bloquear ainda mais a via aérea ou o esôfago – e potencialmente piorar a situação ao empurrar a espinha para mais dentro do tecido. Portanto, se tossir não ajudar e você ainda sentir sintomas, buscar atendimento médico é o próximo passo sensato.
Quando a pessoa não consegue falar ou respirar, compressões abdominais podem ser necessárias para desalojar a espinha (ou outro objeto). Se isso acontecer, você deve ligar para os serviços de emergência e buscar atendimento médico urgente.
Adam Taylor, Professor de Anatomia, Universidade de Lancaster
Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.






