Estátuas de pedra de 19.000 anos descobertas na Turquia

Nas Montanhas Taurus Ocidentais, uma descoberta impressionante está transformando a compreensão da arte e da cultura simbólica na Anatólia pré-histórica. Arqueólogos que trabalham no sítio epipaleolítico de Kizilin, próximo à vila de Yagça, no distrito de Döşemealtı (Antália), encontraram as mais antigas figuras humanas de pedra já registradas na região, datando de até 19.000 anos atrás.
Entalhadas em arenito e posicionadas em um terraço a 407 metros de altitude, com vista para o riacho Kizilin, essas esculturas oferecem novas perspectivas sobre os primeiros gestos artísticos e as identidades dos habitantes da região no final do Paleolítico.
Entre os artefatos descobertos, duas estatuetas se destacam:

- Estatueta Kizilin 1: Encontrada sob um bloco de pedra na camada superior do nível IIa, ela representa uma cabeça humana estilizada, com olhos cuidadosamente esculpidos e padrões incisados que sugerem um adorno na cabeça – talvez cabelo ou um cocar. Embora o corpo esteja fragmentado e o gênero não tenha sido identificado, os arqueólogos apontam semelhanças estilísticas com esculturas do Paleolítico Superior europeu, o que sugere uma possível representação feminina.

- Estatueta Kizilin 2: Descoberta em outra área da mesma camada, esta peça está intacta e apresenta duas figuras humanas conectadas simetricamente, com sulcos que dividem a escultura em metades espelhadas. É considerada uma das representações mais antigas de “gêmeos siameses” na pré-história da Anatólia.
As esculturas são anteriores às figuras neolíticas encontradas em Çatalhöyük e Hacılar por vários milênios, posicionando Kizilin como um dos primeiros epicentros de produção simbólica na região.
As camadas arqueológicas onde os artefatos foram encontrados correspondem aos níveis geológicos IIa e IIb, marcados por sedimentos avermelhados. Utilizando a técnica de datação por radiocarbono (AMS) aplicada a conchas marinhas, a ocupação do sítio foi estabelecida entre 19.455 e 13.621 a.C.
Além das esculturas, o sítio revelou:
- Ferramentas líticas entalhadas e micrólitos;
- Objetos de osso com marcas de uso;
- Contas ornamentais feitas de conchas marinhas;
- Evidências de um comércio regular de fabricação de ferramentas, com uso local de sílex (calcário silicificado).
Embora as ferramentas de osso estejam fragmentadas, sua presença reforça a diversidade das atividades humanas no sítio.
Para o Professor Metin Kartal, da Universidade de Ancara e diretor das escavações, as figuras não devem ser vistas como arte isolada:
“Estas não são meramente expressões artísticas soltas, mas declarações culturais de uma época em que identidade, crença e representação começavam a tomar forma concreta.”
Segundo Kartal, os elementos estilísticos das esculturas remetem tanto às tradições do Paleolítico europeu quanto do Oriente Próximo, mas com características únicas. Isso pode indicar o desenvolvimento de uma linguagem artística específica da Anatólia, ainda em sua fase inicial.

Apesar dos avanços nas pesquisas, apenas seis temporadas de escavações foram concluídas até o momento. Grande parte da caverna permanece inacessível devido à erosão das encostas e ao acúmulo de sedimentos, o que impede o acesso ao interior. A equipe planeja futuras campanhas para explorar áreas ainda intocadas, que podem conter mais evidências da vida simbólica e cotidiana dos primeiros habitantes da região.
Kizilin se une a sítios vizinhos como Öküzini, Karain-B e Çarkini, mas se destaca pelo caráter único e pioneiro de suas descobertas. Esses achados posicionam a região de Antália não apenas como um corredor de passagem durante o Paleolítico, mas como um núcleo autônomo de inovação cultural e artística.