Estudo revela que andar de bicicleta reduz risco de demência

Escolher a bicicleta como meio de transporte pode ser muito mais do que uma opção sustentável — pode ser uma estratégia poderosa para proteger a saúde do cérebro. Uma pesquisa publicada na revista científica JAMA Network Open analisou dados de quase 480 mil pessoas e revelou que quem adota a bicicleta regularmente apresenta menor risco de desenvolver demência, incluindo Alzheimer e casos de demência precoce.
O estudo, realizado com participantes do UK Biobank, acompanhou voluntários durante um período médio de 13 anos. Os resultados são contundentes: pessoas que usavam bicicleta (ou combinavam bicicleta com outros meios de transporte) tinham um risco 19% menor de desenvolver qualquer tipo de demência em comparação com quem utilizava meios não ativos, como carro ou transporte público.
Os benefícios não se limitam à demência tardia, que costuma surgir após os 65 anos. O ciclismo também se mostrou protetor contra a demência de início precoce, com uma redução de 40% no risco para esse grupo específico. A pesquisa aponta ainda que esse efeito positivo é maior entre pessoas que não possuem predisposição genética para a doença, especialmente aquelas que não carregam o gene de risco APOE ε4.
Outro achado relevante foi o impacto direto no cérebro. As imagens de ressonância magnética revelaram que ciclistas apresentavam maior volume no hipocampo — região essencial para a memória e o aprendizado —, além de preservarem melhor a massa cinzenta em áreas críticas para as funções cognitivas.

Apesar dos benefícios bem estabelecidos da caminhada para outras áreas da saúde, neste estudo específico, andar a pé como principal meio de transporte não teve efeito protetor contra Alzheimer. Na verdade, houve até uma leve tendência de aumento no risco desse tipo de demência para quem optava apenas por caminhar.
De forma surpreendente, dirigir apresentou melhores resultados do que usar transporte público quando o assunto é proteção cognitiva. Segundo os pesquisadores, isso pode estar relacionado às demandas cognitivas que o ato de dirigir impõe, como navegação espacial, atenção constante e tomada de decisões rápidas.
Os cientistas destacam que o diferencial do ciclismo, além da atividade física moderada, pode estar na combinação entre esforço físico, engajamento cognitivo e estímulo sensorial. Pedalar exige planejamento de rota, equilíbrio, atenção a estímulos do ambiente e constante adaptação, fatores que parecem ser decisivos para manter o cérebro ativo e saudável.
Esses resultados se somam a uma crescente evidência de que formas acessíveis de atividade física, como o transporte ativo, são estratégias efetivas para reduzir o risco de demência. E, segundo os autores, essa relação permanece significativa mesmo quando são considerados outros fatores de estilo de vida, como dieta, prática de exercícios no tempo livre, histórico de doenças e nível socioeconômico.
Referência: HOU, Cunpeng; ZHANG, Yaqi; ZHAO, Feiyang; LV, Yanling; LUO, Mengyun; PAN, Chensheng; DING, Ding; CHEN, Liangkai. Active travel mode and incident dementia and brain structure. JAMA Network Open, [S.l.], v. 8, n. 6, p. e2514316, 2025. DOI: https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2025.14316.