Estudo revela novo alvo terapêutico para o Alzheimer.

Pesquisadores da Universidade Metropolitana de Tóquio identificaram uma conexão crucial entre o metabolismo da glicose em células da glia — componentes fundamentais do sistema nervoso — e os processos de degeneração causados pelo Alzheimer. Usando retinas de moscas-das-frutas como modelo experimental, os cientistas demonstraram que estimular o metabolismo da glicose nessas células, mesmo com o acúmulo da proteína tau (característica da doença), pode reduzir a inflamação e preservar os fotorreceptores da retina. A descoberta abre caminho para novas abordagens terapêuticas contra doenças neurodegenerativas.
O Alzheimer é atualmente a principal causa de demência em idosos no mundo e continua impactando profundamente a qualidade de vida de milhões de pessoas. Embora já se saiba que a doença está relacionada ao acúmulo da proteína tau dentro das células nervosas, os mecanismos exatos por trás da degeneração neuronal ainda são um grande mistério para a ciência.
Foi com esse desafio em mente que a equipe liderada pela professora Kanae Ando decidiu investigar o papel das células da glia nesse processo. Diferente dos neurônios, esse tipo celular atua como suporte vital para o sistema nervoso central — alimenta, protege e até remove proteínas anormais. Já se sabia que a inflamação causada pelas células da glia está entre as principais características do Alzheimer, assim como a queda acentuada no metabolismo cerebral da glicose. O que ainda não estava claro até então era como essas alterações estavam ligadas ao acúmulo da proteína tau.
Em experimentos com Drosophila melanogaster, uma mosca amplamente utilizada na pesquisa biomédica, os cientistas observaram que o acúmulo da proteína tau na retina levou à degeneração neural, inchaço nas regiões adjacentes e à formação de estruturas anormais. Curiosamente, essas anomalias pareciam estar associadas à hiperatividade das células da glia.

Para entender a conexão com o metabolismo da glicose, os pesquisadores usaram engenharia genética para aumentar a expressão de uma proteína transportadora de glicose (GLUT) nas células da glia. O resultado foi surpreendente: mesmo sem reduzir a presença da proteína tau, houve uma diminuição significativa na inflamação e na degeneração neuronal. Isso sugere que o acúmulo de tau compromete diretamente o metabolismo energético dessas células, afetando sua capacidade de proteger o tecido nervoso.
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Com base nessas descobertas, os pesquisadores propõem que o metabolismo da glicose nas células da glia pode representar um novo e promissor alvo para o tratamento de condições neurodegenerativas. Como doenças como o Parkinson também envolvem processos inflamatórios no cérebro, as implicações dessa descoberta vão muito além do Alzheimer. Novas terapias baseadas nesse princípio podem revolucionar o combate a diversos distúrbios neurológicos, oferecendo esperança a milhões de pacientes ao redor do mundo.
O estudo foi publicado na revista Disease Models & Mechanisms.