Avaliando a vacina contra a varíola para prevenir a mpox.

Nos últimos anos, o mundo tem visto um aumento de novas e mortais doenças infecciosas, representando uma ameaça significativa à saúde global. Os surtos de COVID-19, H1N1 (gripe suína), Ebola, Zika e mpox destacam nossa vulnerabilidade. Embora alguns desses vírus sejam recentes e relativamente desconhecidos, outros, como o mpox (MPXV), existem desde a década de 1970, mas estavam confinados a partes da África.
No entanto, o recente surto global de mpox — causado por uma variante recém-identificada que é mais infecciosa do que as cepas anteriores — gerou preocupações em todo o mundo, destacando a necessidade urgente de uma vacina eficaz, segura e multivalente.
A LC16m8 é uma cepa atenuada do vírus da vacínia que foi originalmente desenvolvida no Japão para a varíola e, posteriormente, aprovada para o mpox em 2022. A LC16m8 demonstrou eficácia e imunogenicidade em estudos pré-clínicos e clínicos com primatas não humanos, confirmando seu potencial contra o MPXV. No entanto, mais análises imunológicas e patológicas são necessárias para caracterizar totalmente suas propriedades, a fim de desenvolver vacinas de mpox amplamente eficazes.
Para abordar a escassez de pesquisas sobre o tema, um novo estudo avaliou a imunogenicidade e a segurança da LC16m8 em três espécies animais. O estudo foi liderado pelo Professor Associado Kouji Kobiyama, da Divisão de Ciências de Vacinas do Instituto de Ciências Médicas da Universidade de Tóquio, juntamente com o Professor Ken J. Ishii, também da Universidade de Tóquio. O estudo foi disponibilizado online em 15 de abril de 2025 e publicado no Volume 115 da revista eBioMedicine em 1º de maio de 2025.
“Nós avaliamos a imunogenicidade da LC16m8 em três cepas de camundongos e em amostras humanas, além de realizarmos uma análise patológica utilizando um modelo de primatas não humanos”, afirma o Dr. Kobiyama. A equipe vacinou três cepas de camundongos (BALB/c, C57BL/6J e CAST/EiJ) com a LC16m8 e avaliou as respostas imunológicas induzidas pela vacina, além de verificar o quanto ela protegeu os camundongos contra o mpox.
Da mesma forma, administraram uma dose alta de LC16m8 em macacos-cynomolgus e os monitoraram quanto à segurança, medindo alterações no peso corporal, temperatura e possíveis reações locais ou sistêmicas. Por fim, vacinaram voluntários saudáveis com LC16m8 e estudaram suas amostras de sangue para avaliar as respostas imunológicas, incluindo a presença de anticorpos neutralizantes contra diferentes cepas do MPXV.
Os experimentos realizados mostraram que a LC16m8 induziu respostas humorais fortes em todos os três modelos de camundongos e mirou diretamente os antígenos do MPXV. Isso promoveu células B do centro germinativo e células T auxiliares foliculares, que são essenciais para a imunidade de longo prazo. Além disso, os camundongos CAST/EiJ vacinados apresentaram cargas virais reduzidas no tecido pulmonar, comprovando a eficácia da vacina.
Nos macacos-cynomolgus, a vacina induziu lesões localizadas de pox sem afetar significativamente seu peso, temperatura ou parâmetros hematológicos, o que indica a segurança da vacina. Por fim, em humanos, a vacina aumentou os anticorpos neutralizantes contra várias variantes do MPXV, sem eventos adversos graves no período de acompanhamento, sugerindo a ampla cobertura da LC16m8 e reforçando sua segurança.
Esses resultados destacam a viabilidade da LC16m8 como uma opção segura, eficaz e escalável para a vacinação contra o mpox. Além disso, a análise abrangente e interespécies realizada neste estudo fornece um modelo para o desenvolvimento de vacinas de próxima geração contra outros poxvírus e patógenos emergentes, potencialmente reduzindo os tempos de resposta desde surtos até a aprovação regulatória e a inoculação pública em larga escala.
“Como nossa pesquisa valida a eficácia e segurança da LC16m8, ela pode acelerar a aprovação e implantação desta vacina em regiões e populações altamente suscetíveis a surtos de mpox, especialmente na África. A longo prazo, vacinar mais pessoas poderia resultar em uma redução significativa nas taxas de transmissão do mpox, aliviando a pressão causada por um surto nos sistemas de saúde, com a possibilidade de eliminar completamente o mpox como uma ameaça à saúde pública,” acrescenta o Dr. Kobiyama.
Claro, mais estudos ainda são necessários para otimizar a eficácia e segurança da vacina, especialmente em populações ingênuas e imunocomprometidas, além de explorar plataformas alternativas de vacinas. Mas, por enquanto, este estudo estabelece a base para transformar as estratégias globais de gestão do mpox e de outras doenças infecciosas.
“Nosso trabalho pode moldar e orientar o desenvolvimento de um sistema global permanente de vigilância e resposta para novas doenças infecciosas, criando sociedades mais resilientes, que estarão melhor preparadas para futuras ameaças pandêmicas,” conclui o Dr. Kobiyama.
Fonte: Universidade de Tóquio.