Sabe aquela sensação de que o corpo está mais “duro” ou “rangendo” com o passar dos anos? Pois é — não é só impressão. Um novo estudo mostra que, assim como o resto do corpo, as células dos nossos ossos também envelhecem, e essas mudanças podem fragilizar toda a estrutura que nos sustenta.
Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin, em colaboração com a Mayo Clinic e o Cedars-Sinai Medical Center, deram um passo importante para entender melhor esse processo. O foco do estudo foi nos osteócitos, células fundamentais para a manutenção dos ossos. E o que eles descobriram é revelador: à medida que envelhecemos, essas células passam por alterações profundas que afetam tanto sua forma quanto sua função — e isso enfraquece diretamente os ossos.
Os resultados, publicados nas revistas Small e Aging Cell, mostram que o envelhecimento e o estresse levam os osteócitos a entrar em um estado chamado senescência celular. Isso significa que, embora continuem vivas, essas células deixam de se dividir e se tornam disfuncionais. Pior: elas começam a mudar fisicamente, ficando mais rígidas e menos sensíveis aos estímulos que normalmente ativariam a renovação óssea.
“Pense no citoesqueleto como o andaime de um prédio”, compara Maryam Tilton, professora assistente de engenharia mecânica e autora principal do estudo. “Se esse andaime enrijece, o prédio perde sua capacidade de se adaptar a pressões e mudanças. Com os osteócitos acontece o mesmo: quando ficam duros, param de regular bem a saúde dos ossos — e aí o esqueleto começa a se deteriorar.”
O problema se agrava porque essas células senescentes também liberam um conjunto de substâncias tóxicas (o chamado SASP) que geram inflamações e prejudicam o tecido ao redor. Já se sabe que esse “coquetel tóxico” está ligado a várias doenças crônicas — inclusive o câncer.
Enquanto muitas pesquisas anteriores tentaram identificar essas células por marcadores genéticos (que variam muito de célula para célula), a equipe de Tilton seguiu por outro caminho: olharam para a mecânica das células — como elas se comportam fisicamente. Essa abordagem pode abrir portas para novas terapias, mais precisas e eficazes.
“Assim como a fisioterapia ajuda articulações rígidas a voltarem a funcionar, estamos investigando se estímulos mecânicos podem reverter ou eliminar seletivamente células envelhecidas”, explica Tilton.
Essa ideia é reforçada por James Kirkland, co-líder do estudo e especialista em envelhecimento celular. Segundo ele, entender a mecânica dos osteócitos pode não só ajudar a detectá-los com mais precisão, mas também permitir o desenvolvimento de tratamentos que eliminem essas células danificadas sem afetar as saudáveis — algo que os medicamentos atuais nem sempre conseguem fazer.
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Esse avanço é especialmente importante no combate à osteoporose, doença que atinge milhões de pessoas no mundo e que está diretamente ligada à perda de massa óssea com o tempo. Com uma população global cada vez mais envelhecida, desvendar como nossos ossos mudam com a idade é mais do que uma curiosidade científica — é uma necessidade de saúde pública.
Agora, os pesquisadores querem aprofundar o estudo e entender como diferentes tipos de estresse afetam essas células. A esperança é que, em breve, possamos não só tratar, mas prevenir a fragilidade óssea antes que ela se torne um problema real.