Gigantes de Mont’e Prama podem retratar acromegalia

As impressionantes esculturas dos Gigantes de Mont’e Prama, descobertas nas terras da Sardenha, continuam a intrigar arqueólogos e historiadores. Estas estátuas de altura imponente, que variam de dois a dois metros e meio, foram criadas pela civilização nurágica, que habitou a ilha entre os séculos XVIII e II a.C. Elas representam guerreiros e arqueiros, figuras que são interpretadas como guardiões ou símbolos de poder e prestígio para os mortos da necrópole onde foram encontradas, em 1974, no município de Cabras.

A cada nova escavação, novas estátuas são descobertas, aumentando o fascínio sobre essas enigmáticas figuras de pedra. Recentemente, no entanto, um estudo publicado no Journal of Endocrinological Investigation trouxe uma nova perspectiva sobre as origens das esculturas: os Gigantes de Mont’e Prama podem ter sido inspirados por indivíduos com acromegalia, uma condição rara em adultos onde o corpo produz excesso de hormona do crescimento (GH), levando ao crescimento anormal de ossos e tecidos, principalmente nas extremidades, face e órgãos internos.
O principal sintoma inicial é o crescimento das mãos e pés, mas também pode ocorrer crescimento da testa, maxilar e nariz.
As estátuas possuem características como maçãs do rosto salientes, prognatismo mandibular, narizes grandes e membros musculosos, aspectos que coincidem com os sintomas da acromegalia. Essa condição, conhecida por causar o aumento de certos aspectos do corpo humano, poderia ter sido a base para a estilização desses seres gigantes, representando poder e autoridade na sociedade nurágica. No entanto, os arqueólogos ainda não descartam a possibilidade de que as figuras simbolizem os guerreiros ou líderes da comunidade, mortos e reverenciados em suas tumbas.

A necrópole de Cabras, onde as estátuas foram localizadas, é rica em tumbas cilíndricas cobertas por lajes de pedra. Estas tumbas, que abrigam restos mortais de jovens, possivelmente membros da elite, indicam uma sociedade de alto status e grande organização. Embora muitos sugiram que as esculturas funcionavam como guardiões das sepulturas, outras hipóteses apontam para um possível templo não descoberto ou até mesmo para uma representação artística de um evento significativo na história da ilha.
Estudos recentes indicam que as tumbas e esculturas datam do final do século IX e primeira metade do século VIII a.C., durante a Idade do Ferro. Contudo, ainda pairam incertezas sobre os eventos que levaram à destruição da necrópole: foi um conflito interno entre as comunidades nurágicas, um ataque fenício ou uma ação cartaginesa? A falta de respostas definitivas mantém o enigma em aberto.
À medida que novos estudos avançam, a colaboração entre arqueólogos, antropólogos e endocrinologistas promete desvendar os mistérios dos Gigantes de Mont’e Prama, uma das descobertas mais fascinantes da arqueologia mediterrânea. O futuro dos estudos interdisciplinares poderá revelar mais sobre as origens, a cultura e as crenças dos antigos nurágicos, além de lançar luz sobre uma das figuras mais misteriosas da arte antiga.
Mais informações: Marino Picciola, V., Ambrosio, M.R. & Zatelli, M.C. O mistério de Mont’e Prama: esculturas, acromegalia e sociedade nurágica. J Endocrinol Invest (2025). doi.org/10.1007/s40618-025-02605-5
Fonte: La Brújula Verde