Descoberta na Austrália antecipa a origem dos répteis.

Um conjunto de pegadas fossilizadas encontrado às margens do rio Broken, no estado de Victoria, Austrália, está mudando a história da evolução dos vertebrados terrestres. Segundo estudo publicado na revista Nature, as marcas com garras registradas em blocos de arenito indicam que os amniotas — grupo que inclui répteis, aves e mamíferos — já existiam há cerca de 355 milhões de anos, 35 milhões antes do que se acreditava até então.
As pegadas foram descobertas por dois coautores do estudo que não são cientistas profissionais, em uma área conhecida como Berrepit pelos Taungurung, povo indígena tradicional da região.
As trilhas fossilizadas se destacam por apresentarem impressões nítidas de garras, o que aponta para animais mais próximos dos répteis do que dos anfíbios. “Ter essas garras curvas nas trilhas indica que eram definitivamente animais semelhantes a répteis”, afirma o paleontólogo John Long, da Universidade Flinders.
As pegadas não mostram arrastos de barriga ou cauda, sugerindo que os animais caminhavam com o corpo erguido, uma habilidade considerada avançada para a época.
Apesar do entusiasmo, há divergências sobre o comportamento dos animais que deixaram as trilhas. “Essa descoberta é empolgante e, se as trilhas tiverem sido interpretadas corretamente, os achados têm implicações importantes para nossa compreensão da evolução dos tetrápodes”, afirma Steven Salisbury, paleontólogo da Universidade de Queensland.
Contudo, ele questiona se os animais estavam realmente andando em terra firme. “Parece mais provável que as trilhas tenham sido feitas por um animal que estava se impulsionando em águas rasas, em vez de caminhando em terra firme”, pondera.
Com base na datação das rochas onde as pegadas foram encontradas e em análises de DNA comparativo, os pesquisadores sugerem que a divisão entre os amniotas e os anfíbios pode ter ocorrido há cerca de 380 milhões de anos, no período Devoniano — muito antes do que se estimava.

O estudo combinou técnicas de datação radiométrica, utilizando decaimento radioativo em camadas vulcânicas, com filogenia molecular, que compara os genes de espécies atuais para estimar o tempo de divergência evolutiva.
Antes dessa descoberta, os fósseis mais antigos de amniotas vinham da América do Norte, o que levava a crer que o grupo surgiu no hemisfério norte. Agora, a hipótese de uma origem no hemisfério sul — mais precisamente no supercontinente Gondwana, do qual a Austrália fazia parte — ganha força.
Mas o próprio John Long alerta: “É preciso mais evidências fósseis para confirmar que o sul foi de fato o local de origem. A Austrália é uma área vasta, com poucos paleontólogos atuando em campo. Ainda temos muitos sítios fósseis inexplorados onde descobertas como essa continuam surgindo.”
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Essa nova evidência muda a linha do tempo da evolução dos vertebrados terrestres e pode indicar que os amniotas se adaptaram ao ambiente terrestre muito antes do que se pensava. Além disso, reforça a importância da Austrália como uma fronteira ainda pouco explorada no campo da paleontologia.