Uma descoberta arqueológica recente nas ruínas do Palácio Fujiwara, localizado na Prefeitura de Nara, trouxe à tona a mais antiga tabuada de multiplicação do Japão, datada de cerca de 1.300 anos. A descoberta, feita pelo Instituto Nacional de Pesquisa de Propriedades Culturais em Nara, foi anunciada em 4 de setembro e representa um marco significativo no estudo da matemática antiga no Japão.
O Palácio Fujiwara, localizado perto de Takadono-chō e Daigo-chō em Kashihara, fazia parte da primeira capital do Japão, Fujiwara-kyo, construída no modelo chinês e usada entre 694 e 710, conforme registrado na crônica Nihon Shoki. O pedaço de madeira descoberto durante escavações em 2001 no local, que se acredita ter sido o escritório dos guardas “Emon-fu” no governo central da antiga capital, revelou informações valiosas sobre o uso da matemática na administração da época.
A peça encontrada, medindo 16,2 centímetros por 1,2 centímetros, faz parte de uma tabuada de multiplicação maior que data do final do século VII ao início do século VIII. Pesquisadores acreditam que essa tabuada era usada em escritórios governamentais e outros lugares, possivelmente para funções administrativas, como calcular impostos ou dias úteis para funcionários.
O mais impressionante é que, sob luz infravermelha, a tábua revelou diversas equações inscritas, como:
9 x 9 = 81
4 x 9 = 36
6 x 8 = 48
Essas equações foram escritas em Kanji, usando caracteres chineses. A tabela começa com a multiplicação por nove, organizada em cinco equações dispostas horizontalmente, o que representa um estilo muito avançado de registro matemático para a época.
Inicialmente, devido à falta de regularidade aparente, os pesquisadores classificaram o artefato como uma tabela de prática. No entanto, após estudos mais detalhados, ficou claro que era uma tabela de multiplicação bem estruturada. “Se a tabela de multiplicação estivesse completa, a tábua de madeira mediria 33 centímetros de comprimento com todas as equações escritas nela”, explicou Kuniya Kuwata, pesquisador chefe do Instituto. Ele acrescentou: “Inicialmente, pensei que as tabelas de multiplicação japonesas tinham apenas 2 a 3 equações por linha, então fiquei realmente surpreso ao encontrar uma com tantas, semelhante às da China e da Coreia.”
Enquanto as tabelas de multiplicação encontradas anteriormente no Japão continham apenas duas a três linhas, esta descoberta segue o padrão das tabelas da China das dinastias Qin e Han, que datam entre o século III a.C. e o século III d.C. Além disso, a equipe de pesquisa não descarta a hipótese de que esta tabela pode ter sido criada durante o Período Kofun (século III a VII), possivelmente usada no planejamento das grandes tumbas que caracterizam este período.
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Acredita-se que o escritório “Emon-fu”, responsável pela segurança e administração, usava essa tabela em cálculos relacionados a impostos ou à gestão de trabalhadores. A descoberta foi publicada no
Boletim Anual de 2024 do Instituto Nacional de Pesquisa em Nara, consolidando outro passo importante na compreensão da administração e das práticas matemáticas do Japão antigo.