Cientistas identificaram milhares de colinas e montes em Marte contendo camadas de minerais de argila, formados pela interação da água corrente com as rochas há quase quatro bilhões de anos.
“Esta pesquisa nos mostra que o clima de Marte era dramaticamente diferente no passado distante”, afirmou McNeil em um comunicado. “Os montes são ricos em minerais de argila, o que significa que deve ter havido água líquida em grande quantidade na superfície há quase quatro bilhões de anos.”
O estudo concentrou-se em uma região do tamanho do Reino Unido, localizada em Chryse Planitia, uma vasta área de terras baixas moldada por um impacto antigo. Utilizando imagens de alta resolução e dados espectrais da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, da NASA, e das missões Mars Express e ExoMars Trace Gas Orbiter, da Agência Espacial Europeia, os pesquisadores identificaram mais de 15.000 colinas e montes, alguns com até 500 metros de altura. Essas formações possuem depósitos em camadas, com até 350 metros de minerais de argila embutidos, formados quando a água líquida penetrou nas rochas por milhões de anos.
“Isso mostra que deve ter havido muita água presente na superfície por um longo período”, explicou McNeil. “É possível que essa água tenha vindo de um antigo oceano no hemisfério norte de Marte, embora essa ideia ainda seja controversa.”
Marte exibe diferenças geológicas marcantes entre seus hemisférios: as terras altas antigas dominam o sul, enquanto o norte apresenta planícies erodidas. Chryse Planitia, localizada no norte, está geologicamente conectada a Mawrth Vallis, uma área de terras altas ao sul. Esses terrenos contrastantes, aliados à descoberta dos montes ricos em argila, fornecem evidências intrigantes sobre a possível existência de um antigo oceano no hemisfério norte de Marte.
Logo abaixo das camadas de argila, encontram-se camadas de rochas mais antigas, desprovidas de argila, enquanto as camadas mais jovens acima também carecem de argila. Esse padrão sugere que os minerais de argila foram depositados durante um período específico e úmido da era Noachiana de Marte, uma época em que a água líquida era abundante no planeta.
A região rica em argila está geologicamente conectada a Oxia Planum, o local-alvo do rover Rosalind Franklin, da Agência Espacial Europeia, com lançamento previsto para 2028. A missão do rover incluirá a busca por evidências de vida passada em Marte.

“Os montes preservam uma história quase completa da água nessa região, contida em afloramentos rochosos acessíveis e contínuos”, explicou McNeil. “O futuro rover Rosalind Franklin, da Agência Espacial Europeia, irá explorar áreas próximas e poderá nos ajudar a responder se Marte já teve um oceano e, caso tenha tido, se a vida poderia ter existido lá.”
- Veja também: Existe uma lógica fundamental para a vida?
Esta pesquisa inovadora não apenas aprofunda nossa compreensão sobre a história climática de Marte, mas também destaca a importância das futuras missões para responder a uma das questões mais profundas da humanidade: já existiu vida em Marte?
A descoberta, liderada por Joe McNeil, do Museu de História Natural de Londres, foi publicada recentemente na revista Nature Geoscience.